09/10/2012

Após cuidar do pai doente e superar problemas, meia Morais repensa e decide voltar a jogar futebol. Confira a entrevista;

Morais - Corinthians (Foto: Eduardo Viana)


Quatro meses depois de ter decidido encerrar a carreira com apenas 28 anos, meia, ex-Corinthians e Vasco, repensa decisão e começar a procurar clube: 'Quero ressuscitar'



Por Felipe Bolguese - Portal Lance!Net


Morais repensou a aposentadoria e quer voltar a jogar futebol. O meia, ex-Vasco e Corinthians, pretende estar na ativa em janeiro da próxima temporada.

Em junho, ainda com contrato com o Bahia, ele decidiu parar. Já são quase quatro meses vivendo em Maceió (AL) com os filhos, onde a família também tem negócios.

– Achei que seria mais fácil estar longe da bola, mas é complicado ficar em casa. Pensei: “Vou dar um tempo, de repente até largo”. Lembrei o que o Ronaldo falou. “Jogador de futebol morre duas vezes”. Morre quando para de jogar e na vida. Quero ressuscitar – disse ao LANCENET! o jogador de 28 anos.
O principal motivo que o fez pensar em desistir da carreira foi a doença do pai Manoel, de 62 anos, que sofre de diabetes e mal de Parkinson. Preocupado e culpado por ter saído de casa muito cedo (aos 13 anos foi treinar na base do Vasco), Morais decidiu que iria cuidar dele.

O desejo de largar o futebol, porém, também foi influenciado por dramas médicos. Poucos meses antes de parar, ele começou a sentir fortes dores de cabeça, com suspeita de tumor, logo descartado após visita a um neurologista. Foi constatada uma “cefaleia de tensão”, ou seja, dor de cabeça relacionada a stress e questões psicológicas, que foi curada com tratamento homeopático.

Para a medicina esportiva, Morais é um caso peculiar. Em 1997, ainda jogador de base, ele fazia tratamento para combater uma bronquite e descobriu ser alérgico a diversas substâncias, como antiinflamatórios e antibióticos (veja abaixo).

O fato prejudica suas recuperações, que passam de simples lesões a grandes problemas. Em junho de 2007, grande destaque do Vasco, ele chegou a figurar na pré-lista de Dunga dos convocados para a Copa América. Porém, um corte na perna direita e uma pubalgia o tiraram de combate por mais de cinco meses.
O último caso foi a cirurgia para curar um abscesso (infecção subcutânea) na perna, em setembro de 2011. A temporada no Timão, que depois se sagraria campeão brasileiro, acabou ali. Sem espaço, ele foi emprestado para o Bahia, onde aguentaria o futebol por seis meses.

Hoje, Morais vê o pai com a saúde estável e o incentivando a jogar. Sua rotina é passear com os filhos na praia, levá-los à escola à tarde e manter a forma em uma academia particular. O contato com o futebol é pela televisão, onde acompanha jogos de Séries A e B. Aos sábados, tem jogado futebol em campo de soçaite ao lado de familiares contra os “playboyzinhos de Maceió”. Ele garante que está dando baile e ainda tem bola para brilhar como atleta profissional.

– Eu quero voltar a jogar. Claro que é importante estar num grupo forte. Não precisar dar de herói. Sofri no Vasco, o clube passou momentos complicados, sem dinheiro, e eu sempre renovando o contrato, achando que era herói, e está cheio de herói por aí no cemitério. Quero jogar, pegar um clube bom – disse.
Bronca após ‘besouro ter fumado maconha’

Em janeiro de 2010, Morais, que estava na reserva no Corinthians, foi sondado por outros clubes. Durante a pré-temporada em Itu (SP), Mário Gobbi Filho, então diretor de futebol do clube alvinegro, soltou frase emblemática: “Olhe dentro do meu olho. Se tiver um besouro fumando maconha, o Morais sai”.

– Eu lembro que ele apelou comigo com essa frase (risos). Tinha notícias de eu sair, ele me chamou e falou: “Você não vai para lugar nenhum!”. Eu respondi que estava tranquilo – conta o jogador.

Em maio, o meia se cansou de não ser aproveitado e decidiu ir embora. A saída foi conduzida por seu empresário, Fabiano Farah, e o então presidente Andrés Sanchez. As manchetes foram “E o besouro fumou maconha...”. E Gobbi ficou enlouquecido com o acontecimento.

– Comecei a ficar no banco, não jogava, queria jogar mais. Falei com o meu empresário, acertei com o Andrés minha saída... Aí saiu a história que o besouro tinha fumado maconha (risos). Gobbi ficou doido. Me chamou à sala dele e me deu uma bela dura (risos). Eu tinha de pedir desculpas, porque ele sempre me deu muita moral. Aconteceu o que tinha de acontecer. Agora é pensar no que está para vir, que é só coisa boa – diverte-se Morais.
Morais em ação pelo último clube, o Bahia (Foto: Felipe Oliveira/EC Bahia)

MEDICAÇÕES PROIBIDAS PARA MORAIS
Diclofenaco - Antiinflamatório, comercializado principalmente como Voltaren e Cataflan. Usado para aliviar dores pós-traumáticas e pós-operatórias, inflamação e edema muscular.

Profenid - Antiinflamatório, antitérmico e analgésico, indicado no tratamento de inflamações e dores decorrentes de processos reumáticos, traumatismos e de dores em geral.

Dipirona - Mais conhecido como Novalgina, funciona como analgésico e antitérmico e antipirético. Indicado para combater dores e febre.

Torcilax e Dorflex - Fazem parte da classe dos relaxantes musculares. Indicados para alívio da dor associada a contraturas musculares decorrentes de processos traumáticos ou inflamatórios e em dores de cabeça tensionais.

Penicilina - Comercializado como Benzetacil e Climaciclim. Antibiótico para combater infecções em lesões, eliminando bactérias. Principal via de administração é por injeção intramuscular.

MEDICAÇÃO PERMITIDA
Celebra - Antiinflamatório e analgésico em cápsulas. Efeito é mais devagar do que os remédios administrados por injeção intramuscular. É o único remédio que Morais toma após realizar cirurgias, sentir dores ou sofrer uma entorse, por exemplo.

COM A PALAVRA: JULIO STANCATI
Médico do Corinthians, tratou de Morais entre 2008 e 2011

'O caso dele é atípico no futebol'

"O que atrapalhava o Morais é que ele tinha muito broncoespamos (dificuldade respiratória). Qualquer gripe que fosse ficava muito forte, e ele desencadeava muitos casos infecciosos. Ele também ficava com alergia direto, o peito chiava muito. Lembro que perdeu muito treinamento e jogo por essa razão. Ele sentiu muita dificuldade no Corinthians. O fato de não poder tomar diversas medicações é um fato muito atípico no futebol. Mas o que mais atrapalhava eram os problemas respiratórios frequentes, falta de ar... Teve vezes que ele não podia treinar, e parava de treinar por até cinco dias. Fizemos diversos exames nos pulmões, respiratórios, mas nunca apontou nenhuma doença específica"

A ZICA DE MORAIS
Lesões e casos 'bizarros' atrapalharam a carreira do meia

1. Pubalgia – Em junho de 2007, Morais sofreu uma pubalgia crônica. Ele havia sido pré-convocado por Dunga para a Copa América de 2007, mas foi logo descartado. Sua volta demorou mais de cinco meses.
2. Dor de garganta – Em outubro de 2008, uma virose tirou o jogador de duas partidas do Corinthians pela Série B do Brasileirão.

3. Pescoço – Em março de 2009, um torcicolo vetou Morais dos gramados por mais de uma semana. O problema chegou a ser motivo de brincadeiras do técnico Mano Menzes, que se dizia inconformado com o azar do meia.

4. Joelho – Em junho de 2009, uma entorse no joelho esquerdo tirou o meia dos gramados por mais um mês. Jogador perdeu oito jogos do Timão (pela Copa do Brasil e Brasileirão).
5. Joelho II - Em setembro de 2009, uma artroscopia no joelho direito deixou-o longe dos gramados por cerca de quatros meses.

6. Infecção na coxa - Em setembro de 2011, ele teve de passar por cirurgia para a retirada de um abscesso (infecção subcutânea) na coxa direita. Com isso, perdeu a reta final do Brasileirão.

CONFIRA UM BATE-BOLA COM MORAIS:

Quando decidiu que ia parar?

Começou no fim do ano passado. No segundo semestre não fui muito aproveitado no Corinthians. Já tinha ficado no banco, mas teve uma fase que comecei a não ficar nem no banco, sem ser relacionado. Aquilo já me minava. Meu pai é diabético, tem mal de Parkinson, as coisas me martelavam. Queria vivenciar outras coisas. Futebol faz você ficar muito concentrado, em quarto de hotel, estádio. Eu comecei a botar na balança, esse sentimento de ficar com meu pai começou a pesar mais. Já fui para o Bahia bloqueado. O Paulo Angioni eu conhecia desde o Vasco, muito meu amigo, eu quis ajuda-lo.  Mas chegou num momento que não dava mais. Antes da final do campeonato baiano o Paulo me chamou, eu estava bloqueado. Eu estava no banco, ele pediu para eu ajudar nas finais, sabia que eu queria ir embora. Graças a Deus deu tudo certo e fomos campeões. Depois da final, eu falei que ia embora mesmo. Além disso, tinha uns três meses que eu convivia com uma dor de cabeça, uma enxaqueca muito forte. Juntou tudo isso. Achei que era o momento de voltar para casa, poder ter a bênção do meu pai todo dia, coisa que não tinha fazia 15 anos. Foi bom para viver esse lado. Mas não sabia que eu era muito dependente do futebol

Essa dor de cabeça era algo mais sério?

Tive em 2007, mas foi mais simples. Tomei remédios e fiquei bom. No Bahia eu comecei a sentir, tomei remédio e não adiantou. Fui a um neurologista, expliquei toda a minha história para ele, ele passou os remédios e isso me acalmou. Também fui a uma médica que trabalha com homeopatia, ela me receitou remédios à base de camomila. Os dois falaram que era a fase que eu estava passando, que não tinha nada demais. Na verdade eu queria parar, mas no fundo tinha a vontade de jogar. Agora tenho dor de cabeça raramente. Eu tinha uma cefaleia de tensão, que é como chamam. Não dói muito, mas fica incomodando toda hora. Graças a Deus não teve tumor. Não tive nada, só tenho de me cuidar com a diabetes, que meu pai e mãe têm. Mas a cabeça era mais questão psicológica.

Como está a saúde do pai agora?

Estou mais tranquilo. Meu pai é das antigas, é difícil de levar no médico. Ele gosta de chazinho e pronto. Era isso que estava acabando com ele. Eu tenho dois filhos, eu falava que ele tinha de se cuidar para acompanhar os netos. Ele está melhorando.

Você foi titular pelo Corinthians em boa parte do Paulistão de 2011 e em parte da campanha do Penta. Ficou chateado como saiu?

O Alex chegou a pedido do Tite, é um jogador decisivo. O Sheik então nem se fala, diferenciado, tem 34 anos e uma baita explosão. Eu poderia ter ajudado mais. É engraçado. O Tite foi o treinador com quem eu mais aprendi. Ele me sacou do time, mas eu aprendi muito na parte tática, exemplo de personalidade, de homem. Eu poderia ter ajudado mais, jogo que estava um ou outro suspenso, mas tudo bem. Admiro muito o Tite. Com o Mano, que foi outro que trabalhei, foram grandes exemplos. Mas eu fui campeão, joguei, saí na foto. Está no meu currículo.

É um azarado por ter tantos problemas médicos?

Sou alérgico a várias substâncias. Aos anti-inflamatórios. Eu só posso tomar comprimido, o processo é mais lento. Quando operei o meu joelho, a cicatrização demorou. Teve a suspensão na Série B, por causa daquela briga, eu estava bem para caramba, baita estrutura, o time voando, aí peguei quatro meses. Quando voltei já tinha o Jorge Henrique voando, aí já tinha de correr atrás. Aí depois tive que tirar a cartilagem do joelho. Coisa que era para voltar em 40 dias, durou quase quatro meses. Por isso que agora estou me cuidando muito, fortalecendo a musculatura, para não me lesionar mais.

Como descobriu essa alergia?

Eu tenho desde 1997, antes de eu sair de casa, com 11, 12 anos. Quando ia para o Vasco, já tinha muita alergia, bronquite, tinha de fazer inalação direto no hospital. Fiz exames e deu essas alergias. Há muito tempo que tenho isso. Me atrapalha demais nas recuperações.

Como é o sentimento de jogador aposentado? Não aguentou?

Lembrei o que Ronaldo falou. ‘Jogador morre duas vezes’. Morre quando para de jogar e na vida. Para falar de forma bem humorada, quero ressuscitar. Você começa a se coçar, a perna treme...

Como é sua rotina hoje?
De manhã fico com meus filhos, vamos à praia, à tarde deixo-os no colégio. Davi e Caio, são gêmeos de três anos. Fico duas horas na academia treinando. Aos sábados, jogo no soçaite com meu irmão, primo, um pessoal... A gente faz uma panelinha contra os playboyzinhos de Maceió. Eles ficam loucos. Damos baile (risos). Playboyzinhos só acostumados a jogar entre eles, aí não aguentam a pressão. Molecada é preguiçosa!

E para o Vasco, voltaria?

Teve uma fase conturbada, momento em que a diretoria brigou com todo mundo, não tinha dinheiro. O time ganhava, ganhavam todos. O time perdia, perdia o Morais. Não dava. Chegou uma hora que cansei. Aí, graças a Deus, fui para o Corinthians.

Como vê o drama do Adriano?
Convivi sete meses com ele. É um cara que sempre trabalhou muito. Depois que machucou... Se não tiver a cabeça boa, faz merda! Ainda mais lesão que demora. Se não tiver focado, estrutura, uma família por perto, desanda. Não conseguia perder peso, não tem necessidade financeira. Aí sai três dias, tem balada, amigos... Mas não tem jeito. Imagina o campo, a torcida. Tem de tomar a decisão sabendo o que vai passar, porque não é mole largar o futebol.


Você acabou sem chance no Corinthians, mas chegou a ser elogiado por Ronaldo, Alex...
Sempre fui respeitado no futebol. Jogador sabe quem joga e quem não joga. Eu não era relacionado e o pessoal vinha falar comigo. Ralf, Paulinho... Eu falava que não estava triste, mas já pensava em procurar novo espaço. Eu acredito muito em mim.


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